Mensagem

Na vitrola ainda toca o disco
                         Toca a vida
E, não entendo a mensagem:

bombas explodem,
aviões no mar.
crianças brincando
             de guerra.

Crianças implorando
              um olhar
amor renasce nos seres!

Televisão ensina:
    negro a ser branco
    mulher feita de publicidade.

Uma flor nos cabelos
                     tão negros!
Corpos dourados
             nas praias.
Sangue que escorre
            das balas.

Dois fundidos em um
        que se tornam três.
Três bilhões
        transformados em nada.

E,
na vitrola toca o disco
               toca a vida
     Eu já entendo a mensagem.





Um alguém que eu não sou.

Hoje me peguei, mais uma vez, engolindo a seco, palavras que me corroem por dentro.
Até quando vou aceitar que decidam minha vida por mim, eu não sei, mas hoje, pela manhã, doeu.
Doeu saber que ainda insisto no velho sapato que aperta o meu calo e dói estar dolorida assim. 

Eu ouço com atenção, e até sigo como ordenado, pois obviamente é o certo, mas pra que ser dessa forma? Assim, torna o que era pra ser bonito e crescente, algo rápido e doloroso. Faz de uma caminhada, uma luta.
Uma luta minha, pra ser alguém que eu nunca desejei ser. O alguém, aparentemente, perfeito.

E eu, que passei a noite querendo entender, debruçada na janela, observando o farol e sentindo na pele que nada por aqui é realmente meu. Mas meus desejos se parecem com o horizonte, no qual, sempre vai estar perto mas inalcançável.

Eu olhava e até achava bonito, aquilo que meus olhos viam, mas era tudo tão distante e tão complicado. Ao mesmo tempo a TV ligada, e pessoas dando depoimentos de suas vidas e suas conquistas e aquele blá blá blá de sempre. Aquilo me deu náuseas.
É aquele caminho que a gente sabe muito bem como é. Cheio de obstáculos, subidas e descidas, mas como prêmio final: reconhecimento.


Mas se a nossa vida se baseia em seguir o que a sociedade, nossos pais, as leis, nos impõem, pra que serve o mar? O que ele faz nas horas vagas, quando nos esquecemos dele?
O que o sol sempre faz quando me recuso a abrir minhas janelas e os seus raios luminosos ficam limitados às paredes que construímos, tijolo por tijolo, todos os dias?
Não seria mais fácil viver de troca de favores ao invés de troca de papeis sujos e tão perecíveis quanto o jornal de hoje?



Mas eu novamente aceitei o que impuseram sobre mim. 



Às vezes.

Às vezes, me arrependo tanto, por não ter escolhido você.
Nesses momentos de lucidez, eu posso sentir na carne viva, a saudade e àquela sensação de passos livres.
Seu amor me traz cura, solução, realização e eu queria que isso bastasse pra que tudo ficasse bem.
Às vezes, dói aqui no peito e eu só queria que você me entendesse, e me abraçasse, daquela forma, que traz segurança e saber que as batidas do seu coração aqui estivessem, trazendo cantigas aos meus ouvidos.
E eu sabia o quanto aquilo era incrível e como é, na realidade, entender um olhar, pelo simples fato de conhecê-lo.
Às vezes, eu penso se ainda dá tempo de correr, seguindo as suas pegadas, e me agarrar a sua cintura.
Só eu sei o que está aqui dentro... Sabe... Sei lá.
Mais uma vez, lembrei de você e de como éramos nossos.



Rotina

Penso no quão complicada posso ser e como faço a sua mente pirar.
Imagino quantas vezes você pensa em mim e tento imaginar sua reação, nos mínimos detalhes.
Penso em como é o seu trajeto, em quantos quebra-molas você passa, enquanto vai pra lá e pra cá.
Gosto de desenhar nossos nomes e ver em quais letras se parecem.

Eu sei das vezes que me contradigo, e sei que isso te faz mal.
Mas até sonhei com você, noite passada.
E não posso deixar de desejar acordar ao seu lado, qualquer noite dessas.
Daí, me bate uma daquelas vontades e você sabe que eu prefiro deixar pra lá.

Me ponho no meu lugar e decido nunca mais te procurar.
E você me deseja um Bom Dia,
Meus planos se frustram e te respondo:
Bom dia.

Enquanto eu ando, de um lado para o outro, eu lembro de você.
O dia passa e a gente acaba na mesmisse de sempre:
Um beijo, um tchau, um reticências,
Na nossa história, que nunca tem fim.




Não espere nada.

É difícil imaginar o fim das coisas. Perder o controle delas, é pior ainda.
É deprimente, angustiante.
Bom mesmo, é estar livre de qualquer obrigação, é não impor nada.
É por isso que te digo: Não espere muito de mim. Não espere beijos apaixonados, juras de amor, poesias, um outdoor com a nossa foto, no meio da cidade, declarações de amor em uma praça, enquanto você toma sorvete e a calda de kiwi suja a sua roupa.
Não espere versos de amor, nem músicas que lembrem a nossa história. Não espere que eu te responda quando você me pedir.
Tudo isso pode ser lindo, e é, mas conviva com a ideia de que, talvez, nos tornemos desconhecidos, um dia, quem sabe!?
Te aprisionar, seria fatal e você é tão mais lindo livre.
Hoje estou dizendo pra mim que te amo. Estou convicta que seu abraço é tão confortante, que preciso de você aqui, que passo horas imaginando como seria acordar com você ao meu lado, que sinto falta do seu cheiro, que faz bem segurar sua mão quando está frio, que você é o homem mais incrível que já conheci. Hoje estou dizendo isso, mas não espere muito de mim. Não prometo nada, pois não sei ser previsível.
Mas fazer tudo isso, é te interromper, te brecar, te privar de seguir comigo, te estacionar na beira da estrada, eu prefiro te eternizar. Sem muitas exigências. Assim. Simplismente.

Não espere nada de mim, só me espere.
A gente não precisa se entregar nesse frenesi louco, das coisas tortas. Amor não é esse tipo de entrega que a gente acostumou a ver, obsessiva, destrambelhada. O amor é um fruto maduro, com doçura exata: nem muito doce, nem muito amargo.
Eu optei por te amar assim, então, não espere muito de mim.