Lapso

Não me disseram que o amor batia forte, quebrava costelas, rasgava gargantas.
E da dor de ter de suportar o "quase", vivo em imaginar cada canto do que prometem pra nós.
Mas quem promete? Quem disse que o criado-mudo era pra ser nosso? E o aparador, com porta-retratos dos nossos netos e netos...

Pensar no futuro. Lente, pra miopia do coração.

Das calcinhas e cuecas.

Acordar e perceber,
Pelo cheiro do café,
Que você despertou
Pra me fazer feliz.

E correr pra tirar do varal
As cuecas e calcinhas,
Pois a chuva vem aí,
Pra fazer um amor bom.

Deitar e rolar sob os lençóis,
Molhados de suor,
De nós dois,
Como um só.

Num casebre

Olha a noite aí,  meu bem!
Vieram estrelas, ver
O nosso caso.

Que descaso!
O sol veio interromper
O badalar da meia noite.

Nossa noite se desfez...
Hoje eu caso!
E, por acaso, com meu amor.

Um sonho, também!

Um café para dois,
Por favor!
Pra despertar...
Os sonhos...
Aqueles que contei
Antes de ontem.
Os verdes, amarelos
E furta-cor.
Mas não demora,
Senão a vontade
Passa.
Vai embora
                          Junto com ela.

Da vida

Quanto tempo faz
Que a noite dos mortos
Acabou?

Desde então,
Me pus a procurar
Quem quisesse estar vivo.

E como num suspiro
Ressussito!

da chegada

Mais um dia,
Dos que foram contados.
Menos um dia
Pra quem espera.

Então já faz menos
Um minuto
E um segundo
Pra gente esperar.

E enquanto os passos correm
Versos seguem.
Até o dia em que o tempo
Se findar.